Camponeses do sector familiar no distrito de Nhamatanda, em Sofala, estão agitados devido à presença massiva do gafanhoto elegante e da lagarta do funil do milho, que estão a devorar campos agrícolas a uma velocidade extremamente perigosa.
A acção natural, cujo controlo aos olhos dos camponeses se demonstra ineficiente em algumas zonas, tais como no povoado de Johane e nas zonas limítrofes ao Parque Nacional da Gorongosa (PNG), coloca os produtores na defensiva nas poucas áreas ainda não afectadas para evitar que tudo se perca.
Os estragos causados pelas pragas caracterizam-se pela devastação da lavoura do milho. As vítimas, neste caso os camponeses, vivem desesperadas, estando alguns a anteverem uma situação da fome nos próximos tempos.
A nossa Reportagem escalou aquele distrito, recentemente, e ouviu lamentações dos produtores, que referem estar a viver momentos sombrios causados por este fenómeno natural.
Afirmaram que os agrotóxicos que foram orientados para usar na pulverização dos campos em nada valeram, pois as pragas continuam a dizimar culturas.
Dizem que todas as tentativas para eliminar as pragas estão a redundar em fracasso. Já recorreram, sem sucesso, ao uso de insecticidas e à forma tradicional de fumigação dos campos agrícolas.
“Tentámos todas as manobras para controlar os gafanhotos, mas não conseguimos, agora é só os assistir a dizimar as nossas culturas. Quando terminarem vão sair, porque mesmo com insecticidas eles não abandonam as áreas”, defendeu Anguista Minez, camponesa do povoado de Johane, ao longo do corredor da Beira.
A praga começou a ser vista no mês de Dezembro, conforme a explicação de um camponês identificado por João Maquinda, mas não parecia grave.
“Pensámos que fosse normal, mas passadas algumas semanas a situação começou a piorar. Eu pelo menos perdi tudo, porque os gafanhotos não nos deram campo de manobra. Pusemos alguns pesticidas, mas já era tarde”, explicou Maquinda.
Insectos insaciáveis
O ataque das culturas por parte do gafanhoto elegante e da largarta do funil do milho acontece numa altura em que se registou uma outra invasão: a praga de ratos.
De acordo com os camponeses, mais vale os roedores nas suas machambas do que os insectos, pois, conforme o seu relato, os gafanhotos são insaciáveis, povoam um campo e não saem sem que desbravem tudo.
Anguista Minez explicou que, apesar de ser difícil controlar a praga de ratos, pelo menos os roedores dão trégua aos camponeses, pois destroem apenas uma parte e depois “deixam um pouco para os donos, mas os gafanhotos são vingativos, mesmo lançando fumo e outros insecticidas, eles não morrem. São resistentes.
“Às vezes, eu e os meus vizinhos ouvimos, com muito espanto, quando as autoridades da agricultura dizem que controlaram o problema da lagarta”, defendeu.Adiantou que isso não está a acontecer. “O que acontece, quando muito, é as pragas abandonarem as machambas depois de devorarem tudo”.
A praga de ratos ficou controlada naturalmente. Segundo relatos dos produtores, é uma fase em que se fazem às machambas, e o seu controlo muitas vezes é a própria caça, usando métodos rudimentares de enterrar potes com farelo e eles caem na armadilha.
A lagarta e o gafanhoto, as pragas da actualidade, são apontadas como difíceis de caçar e controlar por métodos tradicionais.
Boavida Manuel
Há muito trabalho para controlar as pragas
O administrador de Nhamatanda, Boavida Manuel, disse, a propósito, ao nosso Jornal, que o Governo está a trabalhar no sentido de controlar as pragas do gafanhoto elegante e da lagarta do funil de milho.
O nosso interlocutor afirma que a luta está a ser ganha, porque a força com que vinham as pragas não é igual a que se reporta em algumas regiões do distrito.
“Realmente temos registo da praga do gafanhoto elegante e da lagarta do funil de milho. Mas podemos garantir que estamos a controlar a situação e, pelos resultados positivos que se estão a obter no seu combate, podemos afirmar que as culturas não serão perdidas”, assegurou.
O governante apontou que a população camponesa está a acatar as orientações para o uso de pesticidas, o que está a surtir efeitos para o controlo das pragas.
Boavida Manuel admitiu, porém, poder haver casos isolados de ataques dos campos agrícolas sem que se tenham recuperado culturas.
“O trabalho de mobilização para o uso de pesticidas para controlar a praga continua. A preocupação é colectiva e ficamos satisfeitos pelo facto de estarmos a conseguir salvar diversas culturas”, explicou o administrador Boavida Manuel
Excesso de agrotóxico aumenta resistência das pragas
Relativamente à resistência das pragas sobre as pesticidas usadas, uma especialista em agronomia, que preferiu não ser identificada, explicou ao nosso Jornal que tal pode ter fundamento no seu uso excessivo por parte dos camponeses.
A nossa interlocutora referiu que usados em quantidades certas e prescritas por extensionistas ou outras pessoas conhecedoras de matéria, a praga de gafanhotos e lagarta pode ser controlada.
“Acontece que há pessoas que exageram, lançando todo o tipo de pesticidas que até chegam a estragar as plantas. Também, tal como o ser humano, elas têm um gene para resistir a qualquer tipo de drogas, aí começam a reproduzir-se e as insecticidas que vamos lançando já não podem servir”, elucidou.
“Penso que os camponeses devem continuar a acatar as ordens do Governo, porque os especialistas da sanidade vegetal têm estado a estudar sobre as pragas e as pesticidas correspondentes”.
Lagarta invade mandioca de Savane
Enquanto o gafanhoto desbrava o milho noutros pontos da província, no posto administrativo de Savane, distrito do Dondo, a lagarta invasora está a estragar a cultura de mandioca. Os camponeses afirmam que esta praga, para além das folhas, está a comer o caule.
Campos inteiros estão a ser desbravados. Alguns produtores afirmam ter conseguido controlar uma parte, prevendo-se recuperar a outra, onde a praga não tiver chegado.
Savane é uma zona árida e semi-árida, e poucas vezes é assolada por pragas, pelo que a presença destes “bichinhos”, nesta época, está a causar estranheza aos produtores.
Em contacto com a nossa Reportagem, um comerciante de insumos agrícolas, “Munguambe e Filhos”, afirmou que o caso de Savane é menos perigoso, porque os camponeses já começaram a controlar a praga a partir de poderosos agrotóxicos vendidos na sua loja.
No seu entender, o segredo de controlo da praga está na antecipação, ou seja, logo que houver evidências da presença de intrusos nas machambas é importante adquirir pesticidas e aplicá-los correctamente.
Um produtor de tubérculos, que se identificou como Monteiro Janota, afirmou ter controlado a praga de lagarta invasora no seu campo. No entanto, receia que as áreas não pulverizadas dos seus vizinhos possam incubar mais pragas que posteriormente venham atacar as suas culturas.
“O tratamento das pragas devia ser colectivo, pois de nada vale eu tratar o meu campo se o meu vizinho não o fizer. Acontece que muitos proprietários de terras aqui vivem nas cidades e deixam os seus trabalhadores a cuidarem das culturas, e eles muitas vezes não reportam as anomalias aos seus patrões. Pelo menos eu já controlei a praga no meu campo, mas o receio é dos vizinhos que ainda não o fizeram”, argumentou.
Por outro lado, os camponeses do vale de Mandruzi dizem que a praga de gafanhotos está a povoar a área com pouca intensidade.
Revelaram que os gafanhotos estão menos activos por causa da intervenção da Açucareira de Mafambisse, que regularmente controla as pragas.
Entretanto, a administradora do distrito de Dondo, Graça Correia, afirmou, num breve contacto com o nosso Jornal, que o seu Executivo, em parceria com o Governo provincial, está a encetar mecanismos para acabar com a praga.A nossa interlocutora garantiu que a situação está controlada.
Silos já guardam excedentes em Nhamatanda
As autoridades do distrito de Nhamatanda afirmam que os silos, recentemente, inaugurados pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, já estão a guardar excedentes das duas épocas agrícolas passadas.
Os silos em questão foram edificados para garantir a conservação de cereais, uma vez que Nhamatanda é um dos distritos do topo em termos de produtividade ao nível da província de Sofala.
O maior produtor de cereais era o distrito da Gorongosa, que durante anos esteve a braços com a situação da tensão político militar.
A presença de pragas nesta época naquele distrito situado no corredor da Beira pode abalar alguns camponeses por causa da produção do momento, mas não todo o distrito. Segundo explicou o administrador, Boavida Manuel, não só porque a situação está controlada, como também há muito excedente das famílias camponesas no distrito.
Ao nível da província de Sofala, dois distritos, nomeadamente Nhamatanda e Gorongosa, possuem silos com a capacidade de armazenar grandes quantidades de cereais. (Rádio Moçambique)